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Mostrando postagens de novembro, 2018

A incongruência política

2018 foi um ano confuso, regado a discussões e frustrações, passando por uma copa mal jogada, um incêndio em um museu histórico, assassinatos, exército na cidade maravilhosa até chegar as eleições. Agora que estamos no fim do ano, seria um momento de reflexão, de análise própria e externa sobre o cenário nacional. Mas não,  agora é época de se preocupar com a viagem de fim de ano e balada na cabeça pensante do brasileiro. Passou -se  as eleições, e tudo voltou ao normal. Ou seja inércia e cegueira. Há de se louvar a preocupação de muitos com o futuro do país, acreditam que nada vida do povo irá mudar, e acham chato o debate político. Você não querer falar de política, tudo bem, mas não encha o saco de quem quer falar. Se você não quer saber sobre política,  não leia, ora. Envolva-se na camada de aliena...

Sobre torcer

Vejo muita gente alarmada, em um desespero furado, pedindo (por melhor dizer) para que as pessoas que votaram em outros candidatos nas eleições, torçam para que a capitania hereditária eleita dê certo no governo. Há de se ponderar que torcer pra que dê certo é de certa forma um ato de suma aflição. Torcer não irá resolver nossas vidas, talvez apenas tirar a carga de sua consciência. Governar um país (massacrado desde sua formação), não é administrar um time de futebol. Não tem o que se torcer, tem o que se analisar. Torcer para algo que guiará nossas vidas pelos próximos 4 anos é uma tragédia anunciada sobre seu próprio voto. Essa mania de tentar surfar na culpa não dá mais. Cabe ainda salientar o fato que anos atrás durante o impeachment (pff) os mesmos que agora pedem para que torçamos para o capitão da reserva ser um bom governante, escu...

Diálogo

Já passava das 8 da noite. 2 horas sentado em um silêncio sepulcral, dois homens se olhando friamente numa sala oval. Um deles, engomado, de ar indiferente resolve enfim quebrar o abismo do silêncio. - então, o que você tem a dizer sobre você? O outro de ar condicionado, com profundas ideias guardadas o fita por uns segundos. Respira. - Me sinto velho, usado pela vaidade. Cada vez mais com cabelos brancos, pulmões pretos, e as costas duras. Parece que os anos vem e vão, numa valsa fúnebre de uma certeza única. E tudo parece estar fora do lugar. Na verdade sempre esteve fora do lugar. Apesar disso tudo, todo fim de ano me pego pensando que o próximo será bom. O homem faz uma pausa, olha ao redor. Não acha nada melhor pra fazer, por isso continua. - alguém uma vez me disse, que morremos todos os anos, para nascer no próximo. Nascer alguém melhor. Minhas mortes vem sendo em vão, pois bem. Todo esse ...

Bento e a ventança em novembro

Era isso mesmo, era aquilo lá que todo mundo tinha medo. Pra Bento era já. Novembro foi despedaçando e o vento passando. Só derrubando os casais que estavam se amando. Bento rei das bobices, achava que amor era das maiores tolices. Mas ficava por olhar os canteiros rosas de Berenice. Ah Berenice, essa era ato cantante em meio ao teatro mudo da vida. Bela, sorridente, brava,  eloquente, de um tipo que Bento desconhecia, aquele único, aquele que não se cria. Procurou pelas ruas bucados de flores, correu em direção à todos odores. Sentiu azaleia, achou sem graça como geléia. Aproximou-se da margarida, mas achou a branquela sem vida. Até que viu um vermelho dos escarlates, que poderia tingir inúmeros estandartes. Era cravo, das terras secas que Bento nunca pensou. Das bravezas indomadas, da natureza. Dos destinos mais procurados pelos amantes da dor. Era ele mesmo, o cravo, sem tirar nem pôr. Decidiu o dia, cortou o cabelo de vergueiro, lavou o velho paletó, herança de um velho c...

Caso passado

Ri do meu riso Diz que não tenho juízo Não sabe o que digo Nem por onde eu piso Tá doido para me tirar de lado Tu és esse tipo de desgraçado Arrependida por ter te encontrado Por ter falado de amor, por ter ensinado A câmera quebrou Nossa imagem nem o vento guardou E agora tu vens onde estou Acreditando que nada mudou Mas vou te dizer Isso tudo tu fizeste por merecer E jogado na lama há de arrepender E eu solta vou seguir e crescer Te vira agora Quero que vá embora E não volte nessa história, que eu não guardo nem na memória

Fui

Sempre fui daqueles piores tipos. Daqueles que nada segura. Estorvo no meio da mesmice dos certos. Certos uma ova. Era das esquisitices pioradas. Das frases sinceras que cortavam vento em chiado grosso. Voz do rádio, das mais tristes que podiam ecoar. Procurei nada e continuei procurando cada vez mais, até o ponto que o nada passou a ser tudo.  Mas era tudo de ruim. Contorcía em culpa pelas ruas do centro na cidade das covas razas. Fiquei só e me culpava, não tinha lado pra ir, nem gente para me ouvir, afinal eu era um tipo dos piores. Quando senti que nada mais me segurava nessa vida? Não sei ao certo, talvez foi na seca das tuas chuvas. Estiagem causou uma loucura das boas, daquelas que você pega pra você e guarda no bolso da alma pra carregar pra onde for, esse veneno doce de dor.

Estações de vento.

Acordou sem ter força, pensou que era tarde, ainda havia louça. Limpou, lavou, varreu, cansou, xingou, gemeu. A velha Creusa deixou as panelas na mesa e o bucho de vento tremeu. Todo dia era dia de parecer com todo dia. Pra Bento era agonia, pra Creusa era alegria, pra gentalha era correria. Um belo tempo quando havia primavera, um tempo feio quando chegava a prima velha, Xexê chegava quando inverno era. Xexê era prima gazela de dona Creusa, vivia a berrar em nome de uma deusa. Era deusa guerreira dizia à velha rameira. Certo dia resolveu aquecer as coxas em Bento, fez ele sonhar em convento, chegou até fingir falecimento, pra besta velha te deixar em paz algum momento. Xexê, a tarada. Era donzela desmoilada nos pesadelos de meia madrugada. No verão Bento suava, o vento não vinha, só a chuva curava. Limpava as botas da gentalha, pro pé não cair enquanto ela marchava. A clientela da velha pousada era das porcas, gostava de ...

Sobre um pouco do tempo

É preciso um bocado de caos na vida dos ceguetas, verdade. Não conseguimos de jeito maneira viver na relva tranquila. Precisamos de arrumar algum tipo de fuzuê, seja qual seja. Agora ainda mais, percebo veracidade no que escrevo acima, nesses tempos de caos anunciado. Parto do raciocínio que o aviso já tinha sido dado à certo tempo, tempo esse suficientemente grande, os ceguetas é que não viram mesmo. E parece que quando já estiverem até o pescoço na lama que se meteram, ainda assim não vão enxergar o regaço. Por falta de aviso não foi, nem pôr falta de juízo, foi por falta duns trem que as vezes nós esquecemos de usar. O primeiro trem é um que retumba, que faz da paixão uma dor e da dor, uma saudade. Faz chover em seca brava, faz sorrir em terra rasa. É esperança em meio à guerra, é delírio em meio a selva. Ninguém segura teu batido, só se já ...

A Era de vento

Era noite mais ainda cedo, e Bento se afastava sem medo. Coragem homem, que a gente dessa noite era sombra. Lamparina, chuva, dois tragos na água ardente, ar frio que gelavam até o dente. Vento soprou, Bento se foi, e pra ele não mais voltou. No vale das ameixas secas, tudo que passou só foi visto por velhas cegas e bestas. Ali nos trilhos da vida, cirurgia de urgência de retirada. Começou uma nova, banguelo, sem força. Uma alma tratada. Magro que só, amarrado sem nó. Queimado ao pó. Mimado à ló. Bebeu da gota que arde, fez choro na parte da tarde, comeu sem alarde, as madeixas de um sangue negro, tudo pra dentro sem medo. A mãe entrava em descarrego, parecia viúva de grego, chorava em terrero, esperando brasa no cinzeiro. Pariu ao vento, colheu meia forma e um pensamento. Dali nascia Bento.

Espero nunca me apaixonar por você

A noite é de bebida seca e um samba de graça pouca Eu ali sentado envolto de fumaça barata Olhando as coisas se mexendo Você ali n'outro canto, olhar de esperança ingênua que ninguém quer ter Espero nunca me apaixonar por você O samba vai morrendo e nascendo outro Parado, fico à disposição do destino Você anda dois passos pra cá Me pede um cigarro então, ora Vê se não demora Espero nunca me apaixonar por você Mas ali nos cantos de desencantos nosso silêncio é valsa fúnebre Não te olho, nem se me pagarem Tu me olha sem graça, de graça. Eu sei. Espero nunca me apaixonar por você Mas ali na mesa o coração sacode, por dentro do paletó Mas ali na frente sua bebida vai acabando e você se sentindo só Daqui a pouco dá tua hora Vê se demora Espero nunca me apaixonar por você Relógio já morreu, o cigarro se...

A assunção de Bento

Bobo até era Bento. Que do convento resolveu se parir.  Pra viver  amor tinha de partir. Saiu caminhando com gana de pescador. Na ponta do anzol amarrou tristeza, e fisgou dissabor. Pulou da barca enquanto havia lua, nadou pra longe, acordou na rua. Virou puto de 10 mangos, vestia trapos e restos de panos. Morou na pensão de dona Creusa, era sabida, velha, uma doçura, meia fedida. Lavou os restos da fornalha, limpava botas e bostas da gentalha. Rumou pro Sul, passou pela ventaça, gripou em meia duzia de esperança. Passou frio, sozinho, sem cachorro pra dar um pio. Parou de chofre na estação do ano, pegou o trem para o fim do plano. Viajou para todos os outros, outros quais? Os outros, ora. Outros mais.

Bento Vento

Nasceu em meio as cabrochas, no viramundo. chorava que só. Até a goela fazer um nó. Tinha cabelo cor de palha, era meio dos estrabismos infantis, e vivia de boca aberta. A mosca só não entrava porque tinha dó. Corria por aí, caía por ali, destranbelho parido pra se ralar. Ou ralado pra se parir. Como sua sapa vó gostava de chiar. Foi crescendo, o nariz escorrendo, o dedão batendo. Foi subindo, nas árvores da idade. E por lá não parou. Bento Vento, era assim que se chamava, era Bento de nascimento, e Vento de sofrimento. Quando espichou por demais, resolveu ventar pra tudo que há de ser. Saiu por lá e tornou pra cá. Sem nunca se achar. Depois de um moinho de década de vento, resolveu fincar. Fincou casa, parceira e um Bento pequeno. Mas o vento ainda uivava na orelha, só mais tento. Passou um furacão de calmaria, perdeu o norte até as três Maria. Dormiu na brisa e acordou cedo...

Resignação de Bento

Gostava dos sorrisos Dos dentes centrados Me encontrava em teus abraços Nó nos dedos, em laços Me descobri em tua pele Teus cheiros eram minha sede Me curei em tua boca Nas unhadas quando ficava louca Me entornava em tuas falas Que dizia um amor sem mas Me justificava em olhares Pra tua beleza azul como os mares Te procurava no toque Sem te ver, já tinha enfoque Me perdia em te amar Pensando que nunca iria acabar.