Bento e a ventança em novembro
Era isso mesmo, era aquilo lá que todo mundo tinha medo. Pra Bento era já. Novembro foi despedaçando e o vento passando. Só derrubando os casais que estavam se amando.
Bento rei das bobices, achava que amor era das maiores tolices. Mas ficava por olhar os canteiros rosas de Berenice.
Ah Berenice, essa era ato cantante em meio ao teatro mudo da vida. Bela, sorridente, brava, eloquente, de um tipo que Bento desconhecia, aquele único, aquele que não se cria.
Procurou pelas ruas bucados de flores, correu em direção à todos odores. Sentiu azaleia, achou sem graça como geléia. Aproximou-se da margarida, mas achou a branquela sem vida. Até que viu um vermelho dos escarlates, que poderia tingir inúmeros estandartes.
Era cravo, das terras secas que Bento nunca pensou. Das bravezas indomadas, da natureza. Dos destinos mais procurados pelos amantes da dor. Era ele mesmo, o cravo, sem tirar nem pôr.
Decidiu o dia, cortou o cabelo de vergueiro, lavou o velho paletó, herança de um velho companheiro que conheceu no campo de centeio. Um, dois, cuspiu na mão pra limpar os sapatos, que na verdade eram suas botas que driblavam ratos.
Tudo pronto, tudo nos estreitos limites do possível. Era o que dava. Bento se resignava. A própria condição, sabia que não era das boas não. Miserável dos bolsos que só, mas se sentia rico diferente de outros. Não se ligava em ouros, nem em pratas, não apostava em brigas e nem nos touros. Colocava teus olhos em sentimentos, em choros. Gostava de ventar livre por muros, Livre dos tolos.
Naquele dia especial pegou o bonde andando, para não suar os toldos. Levava nos braços um jornal, do mês de novembro, pra puxar assunto, pra sentir mais solto.
Pra lá e pra cá, sacolejava teu peito, o bonde já lá ia, não tinha jeito. Medo, lhe faltava ar, mas era melhor do que parar de sonhar. Com Berenice ele havia de conversar. E com aquele tornado acabar.
O bonde apitou, o vento parou, Bento saltou. Meio desembestado se soltou. A janela da dama, já vislumbrou.
Berenice, lindeza em forma de gente, Bento só via teus olhos em sua mente.
Parou de chofre debaixo da sacada, esperando um sorriso da amada. Ela lhe viu pela primeira vez, e sabia no fundo o que era insensatez.
Uma troca de olhar, vento a soar, Bento devagar a soprar, para Berenice não voar. E foi ali que os dois se prometeram. No silêncio dos olhos, sabiam que o mundo era passageiro em meio ao devaneio.
Como o amor poderia parar, se este não tem freio.
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