O poeta coroado
Eis que surge ao som do tambor mais mudo que já tocou
O exuberante poeta triste, que ao sorrir poemas de amor, chorou
Noite afora, gritos a dentro. Todos na velha cidade se amontoaram pra ouvir o seu lamento
E tudo que ele queria, eram palmas ao vento
O poeta maltrapilho subiu no mais alto luar, para poder berrar de seu altar
E enfim, em um momento de coragem perdida, falou, proclamou, urrou. Sob as cabeças de gado que sempre odiou
"Ó céus. Ó tristeza, que me assola em todas as manhãs perdidas na calada da escrita! Como te odeio! Como amo você! Sua tola! Baldia! Sofria, e mais sofria. Por ti, rainha da vida, despeço em ato solitário, pois já cansado estou de ser seu espantalho. Tontos que todos são! Acreditando em bobagens e redenção. Eu que não sou besta, termino este ato altruísta de paixão, me arrebatando pelo chão!"
E o taciturno poeta se acabou na multidão. O silêncio dos tontos foi sepulcral. Fim perfeito da linha que teceu esse anormal.
Uma garoa fina que descia lavava o sangue e a cria.
Na rua nada se ouvia, só a água fina que caía. Os rostos manchados de luta e estupidez olhavam uns para os outros. Estrelas à anos luz se desfaziam em milhares de palavras. Galáxias se acabavam aos olhos do destino, e tudo no piscar de um segundo. Havia ainda vida naquela esquecida cidadela do mundo.
Um riso. Ouviu -se um riso em meio a boiada. Uma criança magrela e suja, vem carregando uma coroa de papelão molhado e murcho. Gargalhando que só, andava à esmo para perto do vermelho túmulo.
O rebanho todo assistindo, o menino de vazio intestino, abaixando e coroando o declínio.
Estouram-se foguetes de gritos, do povo que vivia de tipos. E tudo que se ouvia eram berros e palmas. A libertação dos sofridos. O lava-pés das almas.
Ficaram por lá tanto tempo, que nem se lembraram de ir para as casas. Moraram na noite louvando as falas.
E de manhã, respeitando a lei, na velha sarjeta, descansava sozinho e pisoteado, o novo rei.
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