Alcance
Acordei logo cedo, meio com medo. Havia sido soterrado por ele na madrugada passada, sei lá.
Estava bebendo como sempre, e fumando como nunca. Meio cigarro, meio copo de cerveja, meias verdades, inteiras mentiras.
Copo vem, copo vai, tive de ir ao toalete exclusivo dos eclesiásticos de bebura. A rua.
Chuva morta, bobagens à torta. Fui interrompido por uma ação, um outro ser humano chegou a mim, dizendo loucuras urbanas.
- me passa o telefone se não vou te furar.
Ora, pensei, furado já estou, há anos meu nobre camarada.
- me passa o telefone, se não vou te deixar com cicatriz
Novamente imaginei, as cicatrizes por aqui andam tão abertas que já nem quero que fechem.
O rapaz perdeu a paciência, tentou passar um estilete escolar em minha pessoa, porém por obra do destino mordaz, ele errou todas as incursões, tolo voraz.
Saiu correndo apavorado. Fiquei parado sem entender. Rindo sozinho. Ele perdeu o dinheiro que receberia pelo celular, e eu me perdi em imaginar. Éramos então, amigos no jogo de azar. Ele com seu desespero, e eu com meu julgar.
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