Dona vivi
Vivi. Era dona, dona Vivi. Dona de que?
Vivi não era daqui não, era lá da Bahia, já foi jovem, não gostava de limpar a pia.
Gostava de ouvir tudo que era música, nessas audições não sabia o que estava por vir.
Conheceu um músico, daqueles diferentes, com sorriso alvo, cheio de dentes. Apaixonou-se a primeiro acorde, apostou tudo no amor e na sorte.
Disse "sim" na primavera, começou tudo outra vez, uma nova e viva era.
Veio morar aqui, na cidade dos morros, escapando do calor da Bahia dos ouros.
Viveu como nunca havia de ter vivido, amou seu músico sem se preocupar, afinal era seu marido.
As brumas de paixão duraram pouco, o músico entortou a viola e se despediu num tom seco. Era isso, a música havia parado de tocar, a tuberculose havia levado o músico pra lá.
E de silêncio Vivi saiu a pelejar, sem um tom, sem um timbre, nem compassos a se escutar.
Amargurou os anos, fez o som de inimigo, gritou aos prantos para onde estava seu amigo.
O século dobrou, e Vivi, cada vez mais nos azedumes, lembrou -se da Bahia e teus cardumes. Sentiu falta dos velhos costumes. E sozinha e cheia de ódio, amaldiçoou com os olhos todos os barulhos no ócio.
Enfim, depois de tanto tempo, aprumou sua mala, e partiu, para achar tua música que nunca existiu.
Comentários
Postar um comentário