Letargia

Recordar é viver, lembrar é morrer em se esquecer
Vinha de longe já esse sonho em que me surpreendi certa noite, entupido de remédios para febre.
A febre, ó senhor, essa sempre me procura em meio à calada da mágoa soturna.
Procurei saídas mil. O sonho nem de perto se foi, foi assim de prontidão, se pariu.
Vislumbrei uma pedra grande, sem mais detalhes sobre ela, ora, pedra é pedra não é?
O que mais eu vi? Ah sim, vi um garoto pulando por cima da pedra, em movimento gracioso, leve, quase um vôo angelical a cada salto.
Sabe se la como, mas aos poucos a pedra parecia cada vez maior, e o garoto cada vez menor.
Diabos! Lembro de dizer isso.
Recordo de dizer adeus.
Tudo se minguou de forma derretida, assim como a infância. Pasmem, agora sou desses calhordas saudosos?
Mas nem fodendo!
O sonho ainda continuou, me levou para um meigo quarto de pensão, maltrapilho que só vendo.
Lá, estou só, eu e um maço de folhas jogadas no chão. Me ajoelho para analisar .
Encontro uma pena de ganso negra como o fundo de minha dor. E um tinteiro sem nada.
Céus, que delírio puro e conflituoso. Lembro de me furar com a pena e encher o tinteiro à rubro sangue de déspota.
Recordo do regozijo, no deleite de me explodir em papel, solto, elegante, puro.

Uma hora o sangue acabou, assim como meu sonho, assim como minhas lembranças esquecidas à muito.
Restou uma recordação de jardins de março, um tinteiro coberto de sonhos de criança, e uma pedra repleta de poesia.

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