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Mostrando postagens de janeiro, 2019

Mil

Mil desfaços Em mil pedaços Por teus olhos e abraços Perdido nos teus passos Fui rabiscando novos traços Ligeiros sem laços Guerreiro em acasos Chamariz de teus suspiros rasos Fingindo os descasos De tua saudade nos  espaços Saindo de fininho dos nossos enlaços

É tempo ainda

Quem sabe nós dois ainda iremos acordar na terra do samba Correndo em sorrisos enquanto a poesia se levanta Se perder e se encontrar, nos males que se espanta Trocando palavras debaixo de planta E fingindo saber como se canta Música pra tudo que há, música até pra Santa Eu vou pedindo, me encanta E você vai chamando, me alcança E a gente vai vivendo nessa lança Enfim sem herança Só amor e esperança

Barroco brasileiro

Cheio de trejeitos Apadrinhado dos rejeitos Homem cheio dos defeitos Pôs chama em seus leitos E se orgulha de seus feitos Malfeitos! Conversa pelos cantos Querendo conter espantos Se dizem homens santos Mas são dignos de longos prantos São os donos dos bancos Os homens brancos. Não é tragédia Tão pouco comédia É sangue na Basileia É lama para a plateia

O mal dos tempos

Tragédia, tragédia sangue na colméia lágrima pagando corveia fim dos tempos, fim da ideia Levou para o fundo o pedaço de mundo lama no moribundo natureza ficando em segundo Chorar pela manhã rolando feito rolimã arrastado para um divã Vim, cheguei nesse fim e esqueci até de mim que se dizia tupiniquim O atraso é o poder que só quer saber de nos foder até onde vai o homem, essa mania de ter até o fundo da lama, você vai ver

Alegria seca

Num se arrepare morena q ue das flô mais bela tu era açucena era sabô no meu problema  um chêro de dilema Era seca no sertão nas lágrimas do gibão era doce pro coração aguapé pra violão Se aquiete madame fica de vez esse instante suncê que só fica assuntando sobre mundo mundano Larga de vez de bobéia e acena pra tua platéia bem logo na estreia que só tem eu a sua espera Ô morena, pareces que gostas mesmo de duvidar que eu sou veterano em te amar Sou um sertão que não vê a hora paraf de sonhar só pra acordar e te beijar.

Viola

Viola era de beleza única, era bota fora. Vivia a se gabar, por ser a mais bela sem altar. Um dia saiu a sorrir pela noite. Sem saber o que estava por vir. Havia bebido, confessou anos mais tarde. Despistou os confrades, os valentes, os covardes. Foi sozinha, na andança da escuridão. Quando de supetão, ouviu um assobio ligeiro. Não percebia de onde aquilo veio. Uma voz parecia distante, era questão de instante. A voz é bonita, pensou Viola, de onde veio, tal formita. Perguntou, já com cara de amora, estava também lá fora. De repente, que nem uma dor de dente, a voz voltou a soprar. E Viola se empertigou, sem medo de errar. Era só o vento, para muitos, só uma brisa. Mas para a dama do agora, a bela Viola, o vento havia sussurrado gracejos. E havia lhe dado desejos. Viola que nunca havia brincado de beijos, logo se avermelhou, ali ficou de joelhos. O vento suave lhe tocava com uma boa música, eram um só. Ningu...

Do lado de cá

Boa noite mademoseile Queres que eu te espere Que tal um pouco de minha pele Fazes o que der na telha Acenda meus olhos em centelha Pra não te fitar de esguelha Ordene e escravize Me mande morar na marquise Pode ser, nem me avise Por um sorriso Meio suspiro E dois xingo Aceito Trato feito Deitado aqui do lado de cá de nosso leito

Libertário

Hoje tão longe das cadeias Vou cantando pelas ladeiras Liberto das teias Das  aranhas das freiras Clausura, vá pra lá Do passado de chorar Eu quero distância oxalá Demorou mais consegui Sai correndo e fugi De tudo de ruim que ainda há por vir Xô caretice Dá um tempo da tua chatice Me dá uma trégua dessa sandice Que libertar o mundo E gritar até o fundo É o que resta à um moribundo

Desirée

A se tu soubesses que chorei, quanto tempo passei em velhos braços ofertados Não faria do verão pedaços Me escreveria cartas borradas De lágrimas passadas A se tu soubesses como dói a casa Sem tua risada falada Nenhuma rosa era tão perfumada E agora me pego na calada Com a voz enterrada Dentro da fala A se tu soubesses da tristeza Nesse mar turquesa Que afunda com dureza Me devolveria tua beleza E tu sabes agora o tempo que foi embora que já passou da hora Veja se não demora A voltar para nossa história

Tango solo

Falo e escrevo Sobre um desejo De mais uma dança em seu beijo Já velho estou Foi o que me restou Dançar sozinho onde me deixou Um pouco de um tanto Um buquê seco em pranto do nosso tango La fora a cidade acorda Eu em indo à forra Nessa noite a fora Minha dança não para E a lua que ainda anda tonta Não se apagará

Seresta do suspiro

O que foi feito do teu suspiro, que eu beijei, velejamos sobre as cartas, que eu te dei Me despedi sem dizer adeus, só pra um dia te ver e dizer, sou seu Nessa madrugada, cansei da margura, fui fazer serenata na tua rua Ó, abras a janela, vou lembrando da passarela, em que dançamos em aquarela Me ouça cantar, só mais esse alento, mais meio tento, desse choro lento Vem caindo a noite, me punindo em açoite, e tua janela fazendo meia-noite Berram os violões, na cidade dos beberrões, e tu morena não acendestes os lampiões Vou abandonando a viola, nesse teu silêncio que me devora, v ou seguir meu rumo de sola Me atirarei ao primeiro bar, pra molhar o mar de amar, que tu esteves à escutar Mais um gole ardente, pra eu sonhar com a gente, lembrando de teu sorrir ausente

Tocado

Queria eu ter tocado o teto desse teu coração Pra não descer jamais Não desceria não A escada antiga de teus beijos Era doce cheia de desejos Não queria perder teus dengos Teus gracejos Agora tudo é um corpo em queda Uma mancha Uma mecha No fim vou me esborrachar E esquecer de teu olhar Das velhas escadarias hei de lembrar

Beleza de gracejos

Tu é rosa eu sou espinho Tu é vento eu sou moinho Na sala de cristais esbarrei na mais bela taça. desastrados finais, e ela não se partiu, foi a graça, foi teu sorriso que me demoliu Ouvindo tua voz, me pergunto, se algum dia terá um após E na esperança que o fátidico jamais apareça vou sonhando antes que adoeça  Tu é chama, eu sou trama tu é risco, eu sou rabisco Parado no alto de seu coração, sinto pulsar a pira de paixão E me quebrando por inteiro, teu sorriso derradeiro me fez perder um devaneio que escrevi deitado em teu seio Tu é insegura, eu sou loucura Tu é essência,  eu sou cadência E nós dois nos amamos, parecia algo de Nostradamus, profético e charlatão, tratou como certo um encontro de coração Tu era arte, eu ainda sou parte t u é parte, agora, de minha arte

O que diabos pensamos sobre amar

É dureza tratar De tal coisa Até difícil achar Gente que nunca esteve à se perguntar Afinal o que é amar? Amar é ser algo mais É buscar em meio à selva Uma outra alma fugaz Amar é doce de leite que não se come sozinho É arte com enfeite É vento que move moinho Amar é se perder sem querer E se encontrar na cama ao amanhecer É peça pronta, Dos quebra cabeças que a vida apronta É sentir pele com pele um infinito inteiro e rir da falta de tempo Desejando que um segundo fosse bem mais lento É sabe, poderia esticar por mais uns anos Poderia escrever por todos os panos E não chegaria ao final desses ramos Amar é em suma, tudo. Não importa o que tu ames nesse mundo Há de sempre ser profundo.

Restoio de alma

Apesar de todos, e de tudo, Bento era figura marcante. Sabia muito do mundo, mas era errante. Fizeram coro retumbante na sua espera, quando pariu-se no início de Era. Não era dos fortes, tampouco dos gordos garrotes. Matusquela, a isso ele era, queimado de sol de aquarela. Cabelo sem graça, contrastava com sua fama de tagarela. O rosto, esse era estranho, narigudo que só, olhar sonhador, ponta sem nó. Sorriso gasto pelas bobagens que sonhava quando acordado. Vivia de correr, de rir e chorar. Comia sem ter dó, lombriga em festa, com a fome do bocó. Bento, que era bobo, mas não era lento. Gostava de tudo que tua vista podia soprar. Apaixonado, de fazer inveja em todos, era louco de doer. Medo? Só não tinha o de morrer. Amava tuas coisas, tuas palavras e tuas memórias. Gostava de ouvir as mesmas histórias, e ria das besteiras sem glórias. Desde muito menino, já sabia badalar sem sino. Largado desde cedo,  cres...

Rima solta pra uma só

Deixa que eu me desconverso, faço de tudo nesse nosso verso, roda parada que sou no universo Me arruma e desarruma como se fosse bibelot, para falar de tramas e do nosso ardor, joga as amarras de teus beijos nesse mal de amor Vem pro meu lado, como passo afinado, em treva nesse reconchavo Faz de desentendida, como noiva fugida, nessa nossa dor tão doída Só mais uma dança para eu me embolar na tua trança, capaz eu embestar na tua fala mansa De vez, outra vez, até os desenhos das nuvens foi você quem fez, e me deixou sem essa tal de lucidez Vem no balanço, nos dados que eu lanço, me dar sorte até onde alcanço E na tua espera, vou pintando aquarela, com as cores da tua selva Vou morrendo na saudade, que já até passei da idade, vou chorando pela cidade, esperando aquela metade, que brotou uma vontade, de ser feliz de verdade.

Corra, corra

Corra porque ainda há tempo, chegue lá, não importa o vento não deixe nada para trás, ou deixe tudo, mas não pare jamais, fazer as figas, pra querer mais Se tornar sonho quiçá um bom rapaz mas que nunca teme o capataz E das belezas eu vou atrás, perdido nas águas de um cais, amando as vidas e os marginais, até eu não poder mais