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Mostrando postagens de junho, 2018

Contrações e algo mais

Me pego a pensar e divagar sobre o infinito e o que se acaba, sobre dualidade e unidade. Deitado aqui no berço esplêndido das ideias me esgueiro para a porta da vida. Bato uma vez com grande receio, o medo de encarar a realidade finita, ora, sou um reles humano enfim. Bato uma segunda vez, com um pouco mais de decisão, que se dane, bato a terceira com vontade. A porta se abre, a visão ainda turva pela paisagem, a luz baixa, o odor úmido e forte, estou de frente para o começo. Um monte de bosta. Me jogo no monte sem medo, de olhos abertos. Tudo faz sentido agora. A vida é algo além de tudo que se possa se imaginar, a contração esmagadora do adiante é maior que tudo que se possa tocar e sentir. No meio do estrume, sinto algo vibrar, ali, bem ali! Um pé minúsculo de feijão se faz brotar, bem daquele jeito infantilizado e simplório que aprendemos na escola, com algodão e uma lata de achocolatado. Acordo de...

Do pão ao circo

Ó que bela e profunda vibração causas na incerteza, aritimia no coração Todos unidos por batuques pulsantes bandeiras e sentimentos para esses dois amantes O circo estava montando, e o pão distribuído a massa estava em chamas se matando no calor envolvido Pouco importa o amanhã Fazemos o ritual como um velho xamã Problemas ficam lá fora, la longe Rezamos como o mais fiel monge Por aquele centésimo de segundo Aquele grito estonteante pra acordar o mundo O gol, capaz de espantar todos nossos males Senhor do destino de todos nós, os animales

Mochilas

Estava eu, em um dia como muitos outros, sentado em um ônibus abarrotado de almas, quando vagou-se um lugar ao meu lado. Me sentei e percebi de imediato uma mulher de idade parecida com a minha, com uma mochila pequena nas costas, parecia pesar pouco mais de um kilo. Perguntei se queria que eu a segurasse para ela enquanto a viagem prosseguia. De prontidão ela respondeu que sim, e me entregou ela. Assim que peguei a mochila, senti algo diferente e inexplicável. Como algo tão pesado poderia estar dentro daquela pequena mochila? De encontro a estranheza da situação, tive um vislumbre sobre a situação e compreendi um pouco melhor. O peso da mochila pequena que essa mulher, assim como tantas outras carregava era muito mais além da simbologia material. Era algo institucionalizado há muito, muito tempo. Carregam o peso da vida, o gestar, o brotar do algo novo. Carregam muito mais sentir do que qualquer outro, e muito mais coragem do que ...

Ainda é tempo para virar cinza

Já vou Já fui Ainda que nem sei Onde irei Sem rumo certo Me fecho por perto Quero estar lá longe Mas para onde Sou incerto Confesso, caso concreto Mas acredito que falhei Em todas as cinzas que virei.

Delírio sensato de dois corpos febris

Nós nos casamos em meio a febre, porém esta não turvou a lucidez. A lua ardeu em nossas costas, e no escuro se vislumbra nossa embaraçada sensatez. Corpos e muito mais que isso se eclodiram em um fulgor dimensional. Arrebatou as probabilidades. O que são as realidades perto das felicidades que nos consumem de segundo a segundo. Devemos ater apenas para a verdade: Duas almas em um só mundo.

Leões não temem o temer

Cristo! Por quanto tempo estive imerso nessa bolha de balbúrdia e mentiras??? Como posso ter sido tão invertebrado e oblíquo? Quero mudanças já, quero sair daqui! Me cansei de vocês! Todos vocês! Os gritos internos prensados contra a cabeça e a goela quase rasgam a minha boca. Sentado no passeio da rua Augusta, vendo os tolos passarem com suas camisas amarelas, fedendo a hipocrisia e fazendo um sonido que se equipara aos burros errantes das antigas fazendas (aquelas que se ouviam também os berros cortantes de outro continente). De onde é que surgiu essa manada homogênea de perdigotos? Esse tremendo fuzuê está me dando certo enjoo. Corro pra bem longe, como se fosse um trem desgovernado. Consigo atravessar a rua, olho para todos os lados e vejo um abrigo seguro. Ali estava o maltrapilho que havia me pedido trocados, era quem eu mais precisava nessa hora. Um pouco de realidade nessa sandice caía bem. Pergunto se p...

Quedas em quedas

Há de se atentar sempre por onde pisamos, um pisão em falso e já era. Mas e aí? Forçado a acreditar que um erro mínimo ocasiona o fatal, vou me esgueirando por dentro da penumbra póstuma. Lá vai ele, ditam as fiandeiras do destino dos aventureiros da relva pálida e ligeira que cresce dia após dia e se acaba quando deve acabar. Cheguei em um ponto plano e firme, tateio o chão com as mãos com medo de arriscar. Para onde andei caminhando, sabe se lá Deus. Ainda há muito a caminhar, e me pego a desejar companhia, um simples conforto em meio ao frio vazio. Logo abandono a carência e me solto a andar novamente. Me sinto robotizado, automatizado para esse caminho, nada importa, apenas o vagar. Vagar sem nexo, vagar sem medo, vagar sem saber porque vagar. Lá e cá estou, alguma hora os fios serão cortados e tudo fará sentido, mas essa hora não será por agora, será pra depois.

Do mel ao fim

Entardeço no olhar para tudo quanto é vida, envelheço os segundos apenas por suspirar É vida, é começo, é tristeza , é fim. De onde veio tu?  Pra onde vai tu? Cade tua rainha? Cade teu reino de servidão? Cada passo que desferiu até que nossos caminhos fossem cruzados foram de deverás sofrer. E agora já mais nada resta a não ser pesar. Esperou demais, se arrependeu. Desperdiçou de vez o seu querer com quem não lhe queria. Ainda guardo a marca que me deixou, sem magoa, vou caminhando em seu formigar. Latejante de remorso por não poder mais te salvar de sua escolha, pra sempre ou por agora, vou me lembrar. No final, devo concordar, ele pensou... -Fui abelha, abelha à abelhar.

26 anos

Ao longo desses 26 anos de alegria, esperava ser alegre, fui tão longe do perto de ser, quanto um dinossauro de sobreviver aos meteoros. Cada passo dos 26 foram dados sem um pingo de razão, é como um chuveiro estragado, que devia pingar incontáveis gotas de razão, mas que no máximo treme com as escassas gotas que tenta cuspir e não consegue. Tá tudo errado, tá tudo ao avesso. Cara no asfalto quente e úmido, esperando meu ônibus passar por cima da hora de viver. Permaneço até o último segundo, lembro dos compromissos, me levanto e estendo a mão como sinal. Já vai amanhecendo e o corpo treme com cheiro da gasolina que nos move dia após dia, afinal, esta anda valendo muito mais do que 26 anos de alegria.